ISSN: 2329-9096
Anny Michelly Paquier Binha*, Letícia Miti Kuwae, Irina Hissami Yamamoto de Barros
Introdução: A mielomeningocele é um dos tipos mais comuns de defeito fechado do tubo neural. O reparo dessa malformação deve ser realizado o mais precocemente possível para evitar contaminação com o meio externo. Em 2011, um ensaio clínico randomizado americano foi realizado mostrando que há benefícios neurológicos na realização de cirurgia intrauterina em comparação à cirurgia pós-natal, com menos casos de derivação liquórica e hérnia rombencéfala. No Brasil, essa técnica ainda não é amplamente difundida e muitos serviços realizam o reparo após o nascimento.
Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico dos indivíduos com mielomeningocele atendidos em consulta inicial, em uma rede de reabilitação no Brasil, entre 2021 e 2023, com ênfase na redução de herniação cerebral e menor número de casos de hidrocefalia com derivação ventrículo-peritoneal.
Método: Trata-se de um estudo longitudinal retrospectivo de indivíduos com defeitos de fechamento do tubo neural atendidos em consulta inicial, com base em prontuários eletrônicos da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), entre janeiro de 2021 e maio de 2023.
Resultados: Foram avaliados 262 pacientes com diagnóstico de espinha bífida, sendo 237 portadores de mielomeningocele. Destes, 59 (24,89%) foram submetidos à correção intrauterina e 178 (75,11%) à correção pós-natal. A hidrocefalia foi mais frequentemente observada em pacientes submetidas à correção pós-parto (92,3%) do que à correção intrauterina (78,2%) (p=0,004). Além disso, o implante de derivação ventrículo-peritoneal foi mais frequente em pacientes submetidas à correção pós-parto (86,2%) do que à correção intrauterina (13,8%) (p<0,001). Não foi possível identificar diferença estatística quanto à hérnia rombencéfala, pois apenas 14,3% das pacientes tiveram a condição investigada. Entretanto, a prematuridade foi mais frequente em pacientes submetidas à reparação intrauterina (79,6%), enquanto 66,3% das pacientes submetidas à reparação pós-natal não eram prematuras (p<0,001).
Conclusão: Pacientes submetidas à correção de mielomeningocele intrauterina apresentaram melhores resultados neurológicos do que aquelas submetidas à cirurgia pós-natal, mesmo com maior frequência de prematuridade.