ISSN: 2332-0761
Ignaas Devisch and Christopher Parker
Dada a turbulência política em curso em todo o mundo, é mais do que necessário reconsiderarmos a questão da democracia. Esta questão tem sido colocada pelo filósofo francês Claude Lefort há muitos anos, mas assumiu uma renovada urgência. Embora no Iraque se tenha enfrentado o primeiro perigo da democracia, a ditadura totalitária, os libertadores claramente não tinham pensado no outro risco quando lidavam com a democracia: a implosão completa da sociedade numa colecção pura e informe de indivíduos atómicos. Dado que a democracia é um regime político particular, diz Lefort, trata-se de compreender as diferenças formais entre o totalitarismo e a democracia. Em democracia o lugar do poder está simbolicamente vazio; este lugar de poder pode ser reconfigurado num poder totalitário, mas também pode ficar realmente vazio, quando um regime se desintegra em facções e fracções, todas lutando pelos seus próprios interesses e ideia(s). Por isso, não basta trazer a democracia destronando o rei. Embora a fonte de legitimidade num regime democrático seja o povo, o povo permanece indeterminado. Esta indeterminação e, portanto, também vulnerabilidade é um princípio fundamental da democracia na teoria de Lefort. Em última análise, a loucura da democracia reside na sua vulnerabilidade.