ISSN: 2161-0487
Paolo Cotrufo and Riccardo Galiani
Constatámos, num estudo empírico realizado com 53 pessoas afectadas pelo cancro, de ambos os sexos, que, segundo pesquisas anteriores, estas assumem um estilo defensivo peculiar. As diferenças de estilos defensivos entre os doentes oncológicos e o grupo de comparação resultaram, pela média do State Trait Anger Expression Inventory (STAXI) e do Defense Mechanism Inventory (DMI), estatisticamente significativas. Os doentes oncológicos resultaram ser “introvertidos controladores”. Estes resultados podem ser considerados uma evidência adicional de uma ligação, até obscura, entre a doença somática, mesmo na sua forma extrema, e a organização psicodinâmica subjectiva. Tais evidências são, muitas vezes, o resultado de uma actividade de investigação remetida para estudos tradicionais que conduzem aos diferentes significados de “psicossomática”. Como podemos constatar pela relação epistolar entre Freud e Groddeck e este último com Ferenczi, esta tradição cruzou muitas vezes o caminho da psicanálise. Em alguns casos, tais cruzamentos parecem produzir um desvio, patente na simplificação frequente dos sentidos potenciais dos mesmos cruzamentos. Pensamos, sem dúvida, que a ligação corpo-mente pode ser estudada com vantagem a partir da mesma ideia de inconsciente apresentada por Freud na célebre carta a Groddeck (1917) como o possível “elo perdido” entre o físico e o psíquico. Contudo, pensamos que um estudo a partir deste ponto não se deve limitar a ver na colocação inconsciente do vínculo uma entidade quase nominalista, empurrando o conhecimento para o “mais” implícito na natureza inconsciente do vínculo. A partir destes dados empíricos propomos uma representação dos elementos em trânsito na ponte que liga a mente ao corpo afetado pelo cancro. Queremos considerar a relação entre o corpo autoconservador e o corpo libidinal à luz de uma “crítica” à teoria da anáclise (Anlehnung).